segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

São Luiz de Paraitinga: povo acha que foi um “castigo de Deus”

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




A histórica cidade de São Luiz de Paraitinga, 11 mil habitantes, foi destruída pelo poder das enchentes na passagem do ano.

Para muitos moradores Deus decidiu punir a cidade porque na opinião deles tinha se transformado numa espécie de Sodoma e Gomorra.

Assim informa a “Folha de S.Paulo” de 17 de janeiro 2010, em matéria de seu enviado especial Rogério Pagnan.

Sem dúvida há explicações técnicas procedentes: altos índices pluviométricos, sistema de escoamento deficiente, construções irregulares.

Porém, para grande parte dos moradores, diz a “Folha”, há um único motivo para explicar o que aconteceu: um castigo de Deus.

De fato, uns e outros não entram em contradição: Deus nos seus desígnios superiores pode se valer de fatores naturais por Ele criados para executar sua vontade suprema.

“Assim como as cidades bíblicas perdidas no pecado ‒ continua o diário paulista ‒ e também destruídas por decisão divina, São Luiz do Paraitinga teria abandonado os ensinamentos de Deus e se perdido em festas mundanas.

“A queda da igreja matriz deixou, para eles, claro o recado. “Vai mais gente à Festa do Saci do que à Festa do Divino, que é a festa do padroeiro”, diz a cozinheira Bruna Aparecida da Silva, 23.

“É um castigo. Deus tá vendo tudo isso”, emenda a colega de profissão, Benedita Arlete.

O Saci Pereré é uma versão indígena do demônio, por vezes amenizada com elementos folclóricos. Certas vezes é representado mais consoante com o furor maléfico dos espíritos infernais. Outras vezes é apresentado como um espírito brincalhão ou gracioso comparável aos espíritos revoltados que a teologia chama de “demônios dos ares”. Isto é, anjos de perdição que na hora da revolta de Lucifer escolheram um meio termo não tendo sido imediatamente aprisionados no inferno, mas ficaram na terra fazendo judiações e pequenos males à espera de serem precipitados definitivamente no abismo de fogo no Dia do Juízo Final.

Uns e outros fazem parte das legiões infernais e servem a Lucifer na obra de perder as almas.

“A grande atração de Paraitinga é ‒ prossegue o jornal ‒, porém, seu Carnaval, que chega a reunir em suas apertadas ruas 60 mil pessoas por dia.

“Tem que fazer festa para Deus, não para o outro lado. Saci é do outro lado, da esquerda, não é não?”, explica o agricultor João Rangel dos Santos, 67, que perdeu um filho em soterramento na noite da enchente.

“Isso é para as pessoas acordarem e voltarem a pensar em Deus”, diz a dona de casa Rita de Cássia Cezar Ramalho, 45, vizinha da família dos Santos, no bairro Bom Retiro.

“Para a aposentada Olga Pires Fontes, 85, há também a ingratidão de parte dos moradores da cidade com seus padres ‒ assim como aconteceu com anjos enviados a Sodoma. “Aqui tem muita lágrima de padre. Isso contribui”, diz ela, também entre lágrimas. “Cada padre que vem aqui sai sentido com alguma coisa. Conheço uns oito que saíram chorando daqui feito criança”, afirmou ela.

O engenheiro Jairo Borriello, prefere a explicação técnica do desastre, porém reconhece que as “coincidências reforçam a versão religiosa. Uma delas é uma casa ter sido destruída pelas águas e apenas uma parede, a única com crucifixo pregado, ter resistido.”

“Que as imagens de santo estão sendo encontradas de pé, isso é fato, e ajuda a aumentar esse sentimento”, afirmou” segundo a “Folha”.

No Portal Plugados Net o internauta Leonardo Rios Duarte postou o comentário “A mão de Deus pesou sobre São Luiz do Paraitinga”

Nele diz que “o povo deve se concientizar é que Deus não está se agradando com as obras e feitos da maioria do povo luizense (São Luiz do Paraitinga - a cidade do carnaval, a cidade do saci perere...). Tenho parentes ali, homens de Deus, mas que hoje também pagam o preço e se encontram somente com a roupa do corpo desde o dia 01/01/2010.

“As pessoas estão esquecendo de Deus, o amor de muitos estão se esfriando e estão enraizados no mundo satisfazendo vontades da carne.. Favorecendo as vontades do inimigo... Não condeno festas ou curtições, mas para tudo há um limite.

“O último carnaval foi terrível, a cidade não comportava os habitantes, crianças e jovens a partir de 11 anos praticando orgias, fornicações, prostituição frente aos templos sagrados da cidade.. são pessoas católicas, crentes assembleianos e outras denominações que reconhecem o erro, e ainda estão presas ao pecado, são pessoas corruptíveis...

“O povo deve ter consciência que Deus não terá paciência “infinita” com o povo, uma vez que “inocentes estão pagando o preço dos pecadores”...

Por certo não faltarão vozes eclesiásticas pregando que Deus não castiga o pecado e que, em última análise não há pecado... Ou tal vez, nessa posição, só há “estruturas de pecado” que devem ser combatidas com revolução social enquanto isso a religião, a família, e a propriedade vão sendo impiedosamente demolidas...

Porém, a Igreja ensina que Deus pune os pecados dos homens. E os pecados coletivos com castigos coletivos. Porém o faz com misericórdia visando a conversão e o perdão dos pecadores.

Isto nos ensina o grande doutor da moral católica Santo Afonso Maria de Ligório no sermão por ele composto para ser pregado em tempos de grandes calamidades:

“Alguns veem os castigos e fingem não vê-los. Outros ainda, diz Santo Ambrósio, não querem ter medo do castigo se não veem que já chegou. Irmão meu, quem sabe se esta é a última chamada que Deus te faz”.

Quando o pecador reconhece a sua culpa e glorifica a Justiça divina, atrai sobre si as doces e inefáveis torrentes de misericórdia de Nossa Senhora. Porém, quando se torna indiferente ao castigo, só atrai maiores e mais terríveis punições.

No mesmo sentido pronunciou-se ‒ sendo intensamente aplaudido pelos fiéis ‒ Mons. Philip M. Hannan, arcebispo emérito de Nova Orleans (EUA), por ocasião do furacão Katrina que destruiu a cidade:

“Atingimos um grau de imoralidade nunca visto, e o castigo foi o Katrina. Devemos contar à nossa posteridade como ele foi terrível, para que ela entenda que se tratou de um castigo, o qual deve melhorar nossa moralidade.

“Eu penso que nos corresponde pregar muito fortemente, sinceramente e diretamente que isto foi um castigo de Deus. Deus nos deu direitos e tudo o mais. Mas também nos deu deveres. Nós temos que prestar atenção neste castigo. [...] Para quem lê seriamente as Escrituras, não há como escapar disso. Todos os que eu conheço, sacerdotes e bispos, acreditam nisso também”.